Ju

Ju
..Uma lua e várias fazes...

Sala de espera...

Muito cuidado porque tudo que você disser pode ser usado contra vc!
Tenha uma boa estadia e...Boa sorte!!!

domingo, fevereiro 04, 2007

Lembranças...

...
"Ela vinha pela rua vazia, quase não se prendia a pensamento algum, vagavam coisas, e as vozes e vultos que via passar ao seu lado não muito significavam, ferida ela estava, não sabia bem porque, afinal, o motivo era desprendido demais pra a perfurar tanto.Ainda assim ela caminhou, tinha alguns sonhos ainda, sentia saudade de alguém à muito distante, mas e dái, já haviam se passado meses desde o último contato e ele não ligara mais; mãos nos bolsos e uma distração qualquer...uma tarde, sim era uma tarde linda aquele dia, um dia de Junho, uma tarde amarelada, sua calça era bege, no devido conforto que seu corpo, a tanto não tocado, merecia, usava algo simples, tênis talvez, camiseta envelhecida, a bolsa de tecido, seus livros, os cadernos de sonhos rabiscados e palavras inauditas, ela não esperava mais que as fosse possível dizer!
Passos, mais passos, a entrada, passa pelas pessoas sem a devida obrigação de ser dócil simpática ou ao menos educada, não que ao contrário fosse, só não queria ter que ser gentil justo naquela tarde, e sem menores pretensões ou desejos entrou no seu, ultimamente, tão usado "esconderijo", um shopping, ora essa, que lugar tão óbvio...buscava apenas se esconder um pouco nas linhas da grande rede, afinal, tentativas de fisgá-la eram coisas raras ultimamente, lembrou disso por um momento e até questionou seu futuro, tanto tempo sozinha, talvez já houvesse secado.
E cruzando mais alguns metros estaria já em suas linhas de e-mails e mensagens particulares, não que aquele fosse o melhor dos passatempos que tinha, seu caderno ainda era algo inseparável, mas quem sabe tentando esquecer que sozinha era, até então sua condição, se tornasse algo menos ardiloso.
Em meio aos pensamentos ao mesmo tempo cheios de nada e vazios de algo ela deu seus últimos passos de sanidade, mal sabia que seria arrebatada por algo muito mais forte do que todos os seus anceios superficiais, e diante talvez de algo maior do que imaginava ela se sentiu nada, sentiu medo, ele era estranho, seus olhos eram tão...tão bonitos, ela já o conhecia, sabia que por alí ele já deveria estar, seus olhos eram mesmo especiais, os óculos por ele sempre usados não a permitiam vê-los nunca, mas hoje eles encontravam-se tão belos...
O que fazer diante de tanta irreverência daquele "gaiato" que fazia graça com o que mais a denunciava e com o que menos a preocupava naquele momento...seus olhos, como podia ser? Seriam os dele, então, espelhos?

-Porque sempre que vc aparece por aqui seus olhos são tão tristes menina?Vem, vamos subir e bater um papo...

Eu não lhe dei o direito de ver minha mísera tristeza, olhar fundo e ver minhas leves dores não lhe foram permitidos, mas invadiu, e percebendo cada detalhe como quem anda em pedras lisas ele foi se apoiando, escorando, sentindo o piso, as partes ásperas possíveis de se apoiar e as lisas demais, cheias de muitos segredos para já as desbravar, assim ele caminhou até o ponto que ela deixou de temer, já não a parecia tão nocivo ou estranho assim, seu sorriso era até engraçado, ele fazia ela sentir vontade de sorrir, diante não só das coisas ditas mas dos gestos grandes e a cara de mal que a muitos deveria amedrontar, ele era tão diferente...ela gostava daquela sensação, já não se lembrava mesmo o que a levara até aquele lugar, ainda havia tristeza ou pensamentos vazios? Ele não lhe dava tempo para tal...articulava tanta coisa junta, tantas informações, porque ele era tão rápido, porque ele era tão cheio de idéias, porque ele era tão adorável naquele momento, mas que droga, não era essa a intenção, ele nem sequer sabia seu nome direito, e mesmo sem nenhum tipo de necessidade de ser cortês a propôs acompanhá-la e aquilo só a deixava mais confusa, porque aquele encontro tão cheio de simplicidade e com todos os ingredientes que fazem um grande momento para ser sempre lembrado, mas que besteira, depois de tanta hostilidade ainda pensava como quem sonha, ela esquece de certa forma o que a prende as razões naturais e "normais" e se embrenha no desconhecido daquele estranho, não tão estranho nem tão desconhecido mais.
Existiam os meros entraves, meros pelo fato de serem tão releváveis, que a faziam prudente, existia alguém? Não, menino demais, pouco demais para os anceios de uma mulher ainda tão sem jeito para tal o ser...
Ele fez o convite, ela pensou, e no mínimo momento da dúvida ele a enxeu mais uma vez de informações e referências, porque tantas coisas? Ela só precisava que ele continuasse sendo um estranho, não precisava de tanta segurança pois já, de certa forma, nele confiava, e assim marcaram...
Naquele momento ela acreditava ser só, ser desapercebida, ser passante anônima mas não era e logo vieram mais referências de quem ele se tratava, seus cargos e encargos e assuntos e trabalhos e divergentes, mas que bobagem, ela ainda preferia ele estranho e desconhecido como a alguns minutos atrás, além do que ela sabia sim quem ele era, ou pelo menos o que ele parecia ser.Voltou...sim, ao contrário de muitos dizeres e poucas conclusões ela voltou para perto daquela criatura tão interessante, sim, ambos fumavam e as características em comum foram surgindo, as pessoas de uma vida toda por trás de alguém até alguns instantes estranho foram aparecendo e descobriu-se, então, que ele sempre esteve mais perto do que ela poderia imaginar, isso não era bom, as coisas pareciam bem e perfeitas demais, mais alguns minutos e ela poderia jurar estar diante do homem da sua vida, será? Os melhores romances começam assim, como ela ainda conseguia acreditar nisso?! E ele, nenhum resquício de interesse ou galanteio mais seguro de ser aquilo um primeiro encontro, como podia estar tudo sendo tão bom e ao mesmo tempo tão tentador?!
Ela conseguia, enfim, se abrir, justo ela a quem nunca é perguntado seu real estado, ela costuma ouvir mas nada dizer, nunca...mas ele queria saber, ele queria ouvir mais e ouviu, ouviu horas a fio alí em ambos os bancos de um balcão simples, ele se dispôs a levá-la, queria saber mais daqueles olhos agora já mais vivos, ela achava melhor não, ainda era preciso se adequar as regras dos pais, apesar de seu desapego e "estradismo" corriqueiros ela ainda devia sua parte de satisfações, ele insistiu e ainda levou com eles aquele que era naquele momento então mero demais para ser preocupação, aliás, eles não queriam nada semelhante.
Já em sua casa ela pensa por alguns minutos sobre aquele dia, digamos que, estranho, parecia aquelas cenas vistas só em belas pinturas ou em fotografias do acaso, ela gostara dele sim e ele havia sido tão gentil...talvez lampejos de sono, sim...sono...NÃO...
Derrepente ela levanta em um lance só para que aquele barulho pare e não acabe perturbando a paz do sono dos pais, o que aquilo poderia ser? Um louco? Sim, era um louco, insano, solto por uma rua gritando nas casas um único nome, justo o nome que ela jurava que ele não mais lembrava, o nome dela...ainda de pijama e pisando em um chão frio e áspero ela seguiu com ele até o carro, louca ela nesse momento, não deveria estar alí...não mesmo?
E sem muito pestanejar ele a confessa sua intenção, interrompe todo seu raciocínio e juízo e a beija com um beijo forte, sem muita cor, naquela rua escura, e ela pára em seu peito num abraço único, respira aliviada, sorri e ascende mais uma vez a chama da velha esperança do amor verdadeiro em seu gasto coração... piegas? Talvez...mas muito, muito especial!!!
Ainda bem que ele sentira a mesma coisa, ela não se perdoaria ser um simples engano aquele dia tão diferente, uma tarde em que alguém surgiu..."

E nesse momento morre com a tristeza todo o seu juízo, aquela seria uma nova vida mas "eles" agora um só, ainda não poderiam imaginar!